Roda

Cansei, e cansado
pus-me a teu lado,
dei-te um sorriso
dos que eu me acuso
de estar usando
quando te induzo
a ter pensado
no que pensei.

Sorriso dado,
eu a teu lado,
meio indeciso,
meio confuso,
tonto, girando
qual parafuso,
quieto, cansado
que só eu sei…

E ali parado,
eu a teu lado,
mesmo indeciso,
mesmo confuso,
tonto, brincando
como um intruso,
cego e calado
como me dei,

cansei… e cansado
pus-me a teu lado,
dei-te um sorriso
dos que eu mais uso,
mesmo pensando
no meu abuso
de ter te olhado…
E, então, te amei.

Poetando

Olhas para mim e falas das coisas que já conheço.
Parecem novas.
Falas de mim como quem sabe do meu avesso.
São tuas provas.
Gostas de mim como quem ama cada começo.
Recitas trovas…
Quando sorris tens o sorriso de um ser travesso.
São tuas covas.
E a cada beijo que me dás sem dar o preço…
Tu me renovas.

Absurdo

Você veio e confessou os seus desejos.
E eu a ouvi, mesmo que achando um absurdo!
Pra fazer você feliz, lhe dei meus beijos,
pra poder viver melhor, me fiz de surdo…

Você veio e se mostrou tão satisfeita,
tão contente por poder suprir seu Ego…
Mas o amor, quando é real nada rejeita
e se a vi, só por você, me fiz de cego…

Você veio e quis saber como eu pensava,
e de tudo perguntou. De tudo, tudo!
Mas eu nada respondi porque eu a amava,
e pra ver você feliz, me fiz de mudo.

Mesmo assim, não consegui. Jamais a tive.
Nem assim a fiz feliz como eu queria…
E se cego, surdo e mudo não se vive,
por amor e por você, eu morreria.

Profundo

No fundo de cada poço há água,
No fundo dos corações, segredos.
No fundo das almas tristes, mágoa;
no fundo das tentações, os medos.

No fundo de cada medo há o nada,
e o nada te levará do mundo.
No fundo, não te dirás amada
se nada soubeste ter profundo.

No fundo de cada verso há o senso,
e o senso te mostrará caminhos:
mil deles para um deserto imenso,
e um só para o mar dos meus carinhos.

Pecado

A rua estava escura e no sereno se embaçava,
e eu caminhava a esmo, analisando o meu destino…
Acabrunhado e só, cobrindo o rosto soluçava
assim como se fosse novamente só um menino.

Frustrado menestrel se sonhos vãos e planos findos,
eu já me apercebera de finais iguais aos meus…
Talvez naquela hora, por lembrar sonhos mais lindos,
eu quis mudar o mundo, quis viver, eu quis ser Deus!

Pequei e me confesso, nesse caso, ser culpado.
Pequei e novamente pecaria, como o fiz.
Só peço a Deus perdão porque percebo, envergonhado:
foi meu maior pecado ter querido ser feliz!

Duvidas

Sim, eu te digo o que não digo a outras pessoas.
E tu percebes quanto eu penso e não te digo.
E se eu te digo o que não penso, te afeiçoas
ao que eu só penso e, cuidadoso, não te digo.

Mas tudo aquilo que eu te digo são verdades
que eu não consigo perceber se são ouvidas…
E são nascidas do momento em que tu invades
meu coração, que tudo diz mas tu duvidas.

Calar

(Calar)
Como se não fosse me calar,
como fosse fácil não falar…
como se essa vida não fugisse,
como se Ela um dia não partisse,
como se eu não fosse me abalar…

como se essa vida fosse a morte
e o silêncio fosse a minha sorte,
como fosse o mundo mais bonito,
como se engolisse o próprio grito,
como fosse a boca mais um corte,

como se a vontade fosse esta
(como se a tristeza fosse festa)…
como se se orasse à mesa posta
e esse meu calar fosse a resposta,
como se a atitude fosse honesta.

Como se ordenasse o próprio Ego,
como se aceitasse o que hoje nego.
Como se do “cale-se” eu bebesse,
como se de tudo eu não soubesse,
como se por Ela eu fosse cego!