Pecado

A rua estava escura e no sereno se embaçava,
e eu caminhava a esmo, analisando o meu destino…
Acabrunhado e só, cobrindo o rosto soluçava
assim como se fosse novamente só um menino.

Frustrado menestrel se sonhos vãos e planos findos,
eu já me apercebera de finais iguais aos meus…
Talvez naquela hora, por lembrar sonhos mais lindos,
eu quis mudar o mundo, quis viver, eu quis ser Deus!

Pequei e me confesso, nesse caso, ser culpado.
Pequei e novamente pecaria, como o fiz.
Só peço a Deus perdão porque percebo, envergonhado:
foi meu maior pecado ter querido ser feliz!

Duvidas

Sim, eu te digo o que não digo a outras pessoas.
E tu percebes quanto eu penso e não te digo.
E se eu te digo o que não penso, te afeiçoas
ao que eu só penso e, cuidadoso, não te digo.

Mas tudo aquilo que eu te digo são verdades
que eu não consigo perceber se são ouvidas…
E são nascidas do momento em que tu invades
meu coração, que tudo diz mas tu duvidas.

Calar

(Calar)
Como se não fosse me calar,
como fosse fácil não falar…
como se essa vida não fugisse,
como se Ela um dia não partisse,
como se eu não fosse me abalar…

como se essa vida fosse a morte
e o silêncio fosse a minha sorte,
como fosse o mundo mais bonito,
como se engolisse o próprio grito,
como fosse a boca mais um corte,

como se a vontade fosse esta
(como se a tristeza fosse festa)…
como se se orasse à mesa posta
e esse meu calar fosse a resposta,
como se a atitude fosse honesta.

Como se ordenasse o próprio Ego,
como se aceitasse o que hoje nego.
Como se do “cale-se” eu bebesse,
como se de tudo eu não soubesse,
como se por Ela eu fosse cego!

Dia D – Derradeira Despedida

Duas donzelas despertam do doce descanso…
Dançam, desabrocham…
Deixam de devaneios dourados, de demonstrar dependência, desamparo.
Divina delicadeza!
Desconhecem detalhes do Destino, despidas de desamor.
Divago: distante dia de dezembro…
Deus demonstrará direções diferentes, desviando dos demagogos, dos decadentes, dos destruidores – donos do distúrbio –, defensores dos disparos, detonações…
Discordo deles, doces donzelas – desabafo declamando desencantos.
Desviem dos duelos, das drogas, do dinheiro decadente – disfarçam, desprezam.
Doam de doentes, depreciam decentes, desperdiçam…
Danam!
Decerto devem dividir desgostos, desenganos…
Derramam dúvidas, discursos, dialetos, doutrinas, descuidos…
Desculpas!
Desenham desejos deslumbrantes…
Doutores diplomados demonstram depósitos duvidosos…
Diálogo? Decidiram desconhecer.
Deduzem decidindo, decidem deduzir…
Demonstram descobertas!
Descrevem diamantes, dinimuem dramas…
Destacam-se desviando dinheiro depressa, dizendo-se dignos de desfrutar desse desfalque.
Doces donzelas, deixem de dançar depois da destruição de data desconhecida.
Descubram desse deserto determinados dons de descendência.
Definam-se deusas! Desafiem desaforos! Desempenhem deveres!
Destruam destruição, desfaçam desuniões!
Debaixo deste disfarce de defunto, desaparecerei.
Distante, ditarei dogmas, devoto, defensor, desesperado…
Doido.