Minha vida em São José dos Campos18 minutos de leitura

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De volta às origens?

A Coopersucar anunciou uma vaga de analista de sistemas e eu, desempregado, me candidatei. Duzentos e sessenta e seis currículos foram recebidos pela empresa, dos quais apenas dez foram selecionados para o processo de escolha. Havia uma única vaga. A oferta incluía um excelente salário, um carro subsidiado (desde que fosse movido a álcool), cobertura de despesas e demais benefícios. O contratado deveria atender às 86 usinas espalhadas pelo Brasil. Em cidades próximas a permanência seria curta, de uma semana, por exemplo. No entanto, em locais mais distantes poderia durar semanas.

Depois de três dias de testes, entrevistas e dinâmicas de grupo, um dos diretores se reuniu com os participantes e anunciou que, devido à qualidade dos candidatos, dois de nós seriam contratados. Eu era um deles.

Amarelei. Tive medo, insegurança conjugal, receio de ser acusado de abandonar duas filhas ainda jovens demais, paúra de sentir saudades e não poder voltar quando quisesse.

Hoje, considerando o que a vida nos deu e tirou, eu não saberia dizer se tomei a decisão certa. Dizem que a vida é consequência das nossas próprias escolhas…

Rapadura é doce, mas não é mole

Não importa qual seja sua atividade, o importante é não parar. Com o que aprendi na marcenaria, achei que seria capaz de trabalhar nesse ramo. Só não contava com a sordidez de quem eu julgava ser do bem.

Engº Walter Bartels

Ao conseguir um bom trabalho, para fazer todos os armários de um apartamento do Engº Walter Bartels, da Embraer, propus à viúva daquele de quem compramos as máquinas de marcenaria que o dividíssemos. Ela, então, sugeriu que o todo o material fosse deixado em sua oficina, pois havia lá espaço suficiente, ao contrário do local que eu arrendava. Concordei. Porém, devido à demora de providências, levei meu cliente até lá para que ele visse que o dinheiro que havia me dado foi todo destinado à compra do material necessário. Para minha surpresa, fui barrado à porta da oficina por dois sujeitos que portavam porretes, orientando meu cliente para que fosse até a proprietária da oficina. Ela alegou que não havia recebido material algum, mas que, “considerando a perda dele“, poderia atendê-lo com vantagens.

O Engº Walter acreditou nela e me fritou com os olhos quando saiu, indo embora sozinho.

Durante os cinco anos seguintes, abordei o Engº Bartels em todos os lugares onde o vi, repetindo que ambos fôramos vítima de um golpe. Eu jamais agiria daquela forma, e me sentia mal com a imagem que havia sido forjada por uma vigarista. Foi na agência do Banco do Brasil, no Centervale Shopping, que ele finalmente disse que acreditava em mim.

Abalado com o ocorrido, abandonei a marcenaria e passei a construir telhados com um sujeito chamado Toninho que havia trabalhado na Madecor. Evito comentar sobre os detalhes sórdidos de seu comportamento, por envolver assunto de ordem matrimonial, dele, evidentemente. No intuito de amenizar os problemas, eu cedia a ele meu carro – um Volkswagen TL azul – nos fins de semana, com o tanque cheio, para dele usufruir com a família.

Certo dia, fui procurado por sua esposa. Ela alegava estar sendo ameaçada por ele, que ele bebia muito e que seu histórico era perturbador. Disse que anos antes perdera um filho por ser obrigada a dormir com a criança no chão da cozinha de sua casa. A criança havia falecido devido a uma pneumonia.

A situação tornou-se insuportável e eu acabei desistindo da parceria. Em “reconhecimento”, ele tentou me acionar com um processo trabalhista, sem sucesso. Afinal, eu não era seu empregador.

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