Contagem regressiva5 minutos de leitura

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De uns tempos para cá, tenho recebido muitas notícias de morte de pessoas conhecidas, algumas até próximas, especialmente amigos. A despeito do retorno dos cuidados com a pandemia, pouquíssimas delas foram levadas pela COVID-19. As causas mais comuns têm sido infarto e câncer. Quando isso começa a acontecer, é natural que surja uma certa preocupação com a saúde e, quase sempre, é porque evitamos pensar que a contagem do tempo da vida não é progressiva, como costumamos comemorar em nossos aniversários, mas, regressiva, já que o tempo se escoa a partir do momento em que nascemos.

A melhor resposta para a pergunta “quantos anos você tem?” é: “tenho os anos que me restam, pois os que se foram já não tenho mais“.

Quando abandonamos o útero de nossas mães, a ampulheta da vida é virada. A partir dali, a areia fina escorrerá para baixo até que se acabe na parte superior que chamamos de vida. Ninguém escapa disso. E, apesar de sabermos, esse assunto ainda nos apavora.

Ninguém sabe quando o fim da vida chegará.

Acordei hoje pensando nisso e, por coincidência, recebi um vídeo tratando exatamente desse assunto (parcialmente reproduzido abaixo). Veio de um amigo, antecedendo a notícia de que passou mal ontem e foi levado às pressas para o pronto-socorro.

Essa sensação de que o fim da vida se aproxima não é casual, deve-se ao tempo que já se passou desde nosso nascimento. No meu caso, ele é muito maior que o tempo que me separa do fim.

Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, a expectativa de vida no Brasil subiu para 76,8 anos. Essa estimativa aumentou em 3,3 anos até a chegada da pandemia, e, segundo publicação da CNN, somente entre março de 2020 e dezembro de 2021, caiu para 72,2 anos. “Se a pandemia continuar, a expectativa de vida vai continuar caindo, infelizmente”. Os gráficos estão disponíveis na internet… Porém, a despeito da longevidade de minha família, especialmente do lado materno, nosso modo de viver não é o mesmo, nem tão saudável. Portanto, para alcançar essa marca tenho que contar com a sorte. E não falta muito…

O que fazer na etapa final da vida?

Antes que haja algum impedimento para fazê-lo, é recomendável pensar em como recompensar as pessoas que nos cercam e merecem alguma forma de agradecimento especial. Há pessoas que preparam testamentos, por exemplo, ou distribuem ainda em vida o que possuem.

Não possuo bens, eles já foram transferidos por ocasião de meu divórcio. Testamento não seria o caso. O que tenho é pouco, e me é muito caro para ser distribuído a critério de outras pessoas. Confesso que eu me reviraria no túmulo se soubesse que minhas ferramentas e meus violões iriam parar em mãos desmerecedoras. E não seria conveniente citar nomes aqui. Por outro lado, se fossem vendidos, o valor arrecadado seria pequeno e, certamente, mal usado; se deixados para pessoas tão velhas quanto eu, acabariam em destino conhecido em pouco tempo.

Quero, se possível, aproveitar esse tempo que me resta sendo o mais feliz possível com as condições que tenho. Para isso, a paz e a tranquilidade seriam fundamentais, mas, de certa forma, eu teria que trocá-las pela perda da percepção da realidade, permitindo, talvez, a aproximação do velho alemão, o Alzheimer, o que exigiria cuidados que eu gostaria de evitar.

Engana-se quem acredita que temos o poder da escolha ao longo da vida. Não podemos escolher como ou onde nascer, como ou onde viver ou como ou onde morrer. Tudo acontece de acordo com as circunstâncias. O máximo que podemos fazer é procurar nos adaptar a elas da melhor forma.

Não sou do tipo que procura fazer tudo o que não fez antes. Não pretendo conhecer lugares que nunca visitei e nem experimentar o que nunca provei. Aliás, acredito ter alcançado uma etapa em que não preciso provar nada, nem para mim mesmo, nem para os outros. Gostaria que todos encarassem minha partida como uma passagem natural para uma outra etapa, sem falsos elogios (eu não poderei ouvi-los), sem choro de carpideiras, sem coroas de flores, sem homenagens com retratos nas redes sociais… Tenho certeza de que os mais próximos ficarão sabendo sem precisar de qualquer alarde. Ali estará apenas a minha casca, a essência levarei comigo.

Mas, e suas músicas?!“, costuma perguntar minha esposa. Bem, não me lembro de boa parte delas, e hoje ninguém mais as curtiria, estão “fora de moda”, pois falam de amor, de saudade, de respeito; têm melodias ricas, estilos variados, letras com sentido… Foram compostas por alguém da velha guarda e só as pessoas da mesma geração as entenderiam. Logo não estaremos mais aqui.

Certo estava Renato Russo quando cantava que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã“. E não sabemos até quando haverá um amanhã. No dia em que não houver, será tarde demais.

O fim da vida pode chegar a qualquer momento e, quanto mais o tempo avança, mais sinais de que isso se aproxima nos são mostrados.

Não quero que esta postagem pareça uma despedida, espero poder usufruir de muitos bons momentos ainda, mas na fase derradeira da vida o peso vai se tornando mais difícil de carregar. O corpo acusa isso. Tudo passa, e todos passaremos. Que sejamos bons passageiros!

Em tempo, recomendou Jesus: “Não julgueis para que não sejais julgados“.

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