“Nós somos supremos”8 minutos de leitura

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A despeito de todos os abusos e absurdos que possamos ter visto e nos surpreendido ao longo de nossas vidas, e até mesmo em toda a História do Brasil, o cenário político atual é, a meu ver, o que mais se aproxima do surrealismo, com total inversão, desprezo ou confusão de valores, demonstrando que há uma realidade paralela na qual vive uma pequena parte da população (menos de 10%) que se autoconsidera mais que perfeita e age como se fosse dona do país, impondo suas vontades e preferências pessoais como novas leis, ainda que só existam em suas próprias cabeças. Iludidos pelo poder temporário que receberam – que não é absoluto como gostam de pensar –, essas pessoas se julgam semideuses, interferindo em tudo, determinando inclusive o que devemos pensar.

Lembro-me, com a devida vênia e respeito devido à condição que detêm os ministros do STF, que o hoje decano Gilmar Mendes disse certa vez em uma entrevista “nós somos supremos“, referindo-se a si próprio e a seus pares.

Ora, a palavra supremo indica o que está acima de qualquer coisa, ou o que se refere ou pertence a Deus; é divino. Não é o caso dos ministros que compõem o STF, apesar de a instituição levar o nome de Supremo Tribunal Federal, visto que o Senado detém o poder de retirar de lá qualquer um dos onze ministros através de um processo de impeachment (impedimento).

A imagem que encabeça esta postagem representa os sete anjos do apocalipse. Leia mais sobre isto aqui.

É aterrorizante o trecho da Bíblia que se refere a esses anjos (não aos que são representados na imagem). O primeiro deles fez chover fogo e pedra misturada com sangue, destruindo um terço do que havia na Terra, especialmente a vegetação; o segundo fez uma montanha em fogo ser lançada ao mar, dizimando um terço de tudo que havia nos oceanos; o terceiro anjo lançou uma grande estrela, denominada Amargura, envenenando um terço das águas dos rios e fontes; o quarto anjo tocou um terço do Sol, da Lua e das estrelas, criando a escuridão; o quinto anjo trouxe à Terra a chave do abismo insondável, criando uma enorme fornalha. Dali surgiu uma enorme nuvem de gafanhotos capazes de ferroar como escorpiões. Segundo a Bíblia, “Esses gafanhotos pareciam cavalos aparelhados para a guerra. Traziam na cabeça algo como coroas de ouro e o seu focinho assemelhava-se ao rosto de homens. Tinham na cabeça cabelos compridos, como as mulheres, e viam-se-lhes dentes como de leão“. O sexto anjo foi instruído a soltar os quatro anjos que estavam amarrados junto ao grande rio Eufrates para que matassem um terço da Humanidade com seu exército de 200 milhões de militares.

O texto original diz que quando o sétimo anjo tocasse a sua trombeta, Deus daria cumprimento ao seu plano, cujo conteúdo fora mantido em segredo, de acordo com aquilo que anunciou aos profetas que estavam ao seu serviço.

Tenho saudades do tempo em que eram músicos os que tocavam instrumentos de sopro. E me deixa desconfortável testemunhar a destruição de nossas florestas, rios, mares, montanhas e vidas por fornalhas e inundações que estão destruindo várias regiões do Brasil diante da apatia de nossos governantes.

Depois do “julgamento” que absolveu por unanimidade Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo, seu ex-marido, por prática de caixa dois e uso indevido e um milhão de reais para fortalecer a campanha da presidente do Partido dos Trabalhadores, Gilmar Mendes afirmou que era “o Supremo voltando a ser Supremo”. O ministro Edson Fachin e o decano da Corte, Celso de Mello, ainda entenderam que havia no caso crime de falsidade ideológica eleitoral, mas foram votos vencidos.

Para Gilmar Mendes, a soltura de José Dirceu foi normal, “sem nenhuma novidade”.

Gilmar costuma reagir com um sorriso cínico ou mudança de assunto quando questionado sobre assuntos espinhosos que sugerem a tendência da maioria da Corte em defender a esquerda. Ao contrário disso, tudo que diz respeito à direita – insistentemente chamada de extrema-direita – resulta em condenação pelo grupo.

Os sete ministros do apocalipse

Embora o ministro Edson Fachin tenha se posicionado aberta e indevidamente a favor da eleição de Dilma Rousseff, nota-se que tem adotado uma postura equilibrada em relação aos temas mais polêmicos e políticos. Luiz Fux, único com histórico de magistrado, tem apontado a equivocada intervenção do Judiciário em assuntos que caberiam ao Congresso decidir. Kassio Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Bolsonaro, sentiram-se pressionados desde suas posses, foram colocados de lado e, às vezes, votam com a maioria, decepcionando os que esperavam um posicionamento neutro apoiado pelo que diz a Constituição. E a ministra Cármen Lúcia, única mulher do grupo, demonstrou medo ao apoiar a censura prévia “excepcionalíssimamente” durante a campanha eleitoral em que disputavam a Presidência da República os candidatos Jair Bolsonaro e Lula da Silva, permitindo a continuidade da perseguição a um deles. O de direita, evidentemente.

Quanto aos demais, é impossível negar sua cumplicidade no favorecimento ao atual Presidente do Brasil, cuja taxa de rejeição vem crescendo a cada dia.

Alexandre de Moraes parece ter motivação pessoal no combate a tudo e a todos que se mostram contrários ao resultado da última eleição, e nem parece ser por devoção a Lula, mas, por absoluto ódio a Bolsonaro, a quem quer prender por 26 anos por “crimes” inexistentes ou já perdoados quando cometidos por Lula. Por sorte, não estamos na França do século XVIII e a guilhotina não é mais usada.

Luis Roberto Barroso ganhou fama graças à frase “Perdeu, Mané, não amola!” quando não respondeu a um eleitor que pedia esclarecimentos sobre o processo eleitoral e a reforçou quando afirmou “nós derrotamos o bolsonarismo“.

Dias Toffoli foi advogado do PT, Cristiano Zanin, advogado do próprio Lula por mais de vinte anos, e Flávio Dino, autodeclarado comunista, foram escolhidos a dedo por Luis Inácio Lula da Silva para reforçar o favoritismo do STF em seu próprio benefício e em defesa de seus aliados.

Gilmar Mendes é escorregadio como um peixe, dança conforme a música, já criticou Lula e o PT acusando-os de estelionato e hoje se mantém à sombra de Alexandre de Moraes. Foi criticado por Luis Roberto Barroso em episódio inesquecível, como mostra o vídeo:

Falta de foco e direção

Lamentavelmente, os ministros da mais alta Corte do Brasil parecem ter se deixado levar por paixões pessoais como torcedores de times de futebol sem levar em conta as regras do jogo, o direito de outros torcedores escolherem seus próprios times e as eventuais falhas de juízes e bandeirinhas, e agem imprudentemente porque se sentem inatingíveis em seus carros blindados, cercados de segurança armada e protegidos por seus cargos vitalícios. Afinal, não há nenhuma instância mais superior que a suprema para que alguém possa recorrer. Até o direito antes garantido de dar voz aos advogados foi abolido.

É sensato admitir a diversidade, aceitar opiniões diferentes e, sendo necessário e conveniente, debatê-las até alcançar um consenso ou acordo que satisfaça, ainda que em parte, os interesses de todos. É melhor do que a guerra. No entanto, o enfrentamento, o desafio, a intimidação por ameaças, a força bruta, têm sido as armas mais usadas para anular o equilíbrio entre os Poderes exigido pela Constituição de 1988. Permanece no ar o desejo de repetir quantas vezes quiserem a frase de Barroso: “Perdeu, Mané!“, como fazem os meliantes que abordam trabalhadores para lhes tomar o celular, a carteira, a moto ou o carro, apostando em sua imunidade.

Consolo

No auge do terceiro quarto de um centenário, não sou mais obrigado a votar. Estou em ladeira abaixo na linha da vida, o que seria considerado por alguns como um consolo, uma vez que o fim da linha se aproxima e não estarei aqui para me sentir atingido por tanta falta de bom senso. Mas penso no que pode ser deixado aos mais jovens, essa luta insana pelo poder, a ganância desmedida e o desejo de arrancar tudo dos outros e deixá-los impotentes e dependentes da vontade dos poucos que não se envergonham do mal que nos causam.

Se eu for condenado a 17 anos de prisão (como os “golpistas” de 8 de janeiro), não cumprirei a pena toda. Duvido que eu chegue aos noventa anos (minha aposentadoria é ridícula). Meu consolo, é saber que todos passaremos, que ninguém é imortal. Nem mesmo o diabo. Um dia ele voltará para o inferno.

 

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