Dia de fúria II4 minutos de leitura

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Há trinta anos, o drama policial Falling Down – Dia de Fúria, no Brasil – foi lançado nos cinemas. O protagonista era Michael Douglas, filho do também ator Kirk Douglas. O filme conta a história de um sujeito de meia idade que fica desempregado em meio ao processo de divórcio e, num dia quente, enquanto tenta chegar à casa de sua ex-mulher a tempo de  comemorar o aniversário de sua filha, passa por uma série de acontecimentos que o levam ao ápice do estresse e o fazem perder o controle de sua compostura, passando a reagir com violência e sarcasmo, queixando-se da vida, da pobreza, da economia e do capitalismo.

O título original do filme, referindo-se ao colapso mental de William Foster (Michael Douglas) é retirado da canção de ninar “London Bridge is Falling Down”, que é um motivo recorrente ao longo do filme.

No caminho que percorre, William vai punindo, às vezes com a morte, todos os que surgem em seu caminho e abusam de uma boa vontade que ele já perdera há muito tempo. Entre eles, comerciantes estrangeiros, membros de uma gangue, trabalhadores que fecham uma rua, trabalhando sem razão apenas para não ter seus salários reduzidos, e um neonazista dono de uma loja que oferece artigos bélicos, que destrói o presente que William pretendia entregar à filha em seu aniversário, justamente nesse dia.

Diante de sua violência, entra em cena o policial Martin Prendergast (Robert Duvall), em seu último dia de trabalho antes de se aposentar, e começa uma perseguição ao perturbado William.

O que é fascinante sobre o personagem de Douglas, como está escrito e interpretado, é o núcleo de tristeza em sua alma. Não há nenhuma alegria em sua fúria, não há libertação. Ele parece cansado e confuso, e em suas ações ele, inconscientemente, segue os scripts que ele pode ter aprendido com os filmes, ou nos noticiários.

Ficção e realidade

Assim como em muitos outros casos em que o cinema antecipou a realidade com novidades que, em cada época, nos pareciam inviáveis, o criador do roteiro de “Dia de fúria”, Ebbe Roe Smith, parece ter previsto o que poderia vir a acontecer num futuro não muito distante.

Hoje, considerados os fatos resultantes da pandemia que afetou o mundo, a situação econômica, o descaso de nosso atual governo em relação ao povo, seus gastos exorbitantes e desnecessários, o desemprego, a medíocre remuneração dos aposentados, as constantes altas de preços, a insegurança jurídica criada pelas Cortes superiores, a impunidade dos criminosos, as dificuldades de locomoção dos que enfrentam o trânsito nas grandes cidades ou que dependem do transporte público, rompantes como o de William Foster podem ocorrer a qualquer momento.

A personagem principal do filme é um homem comum de meia idade, sem histórico de violência, com uma carreira bem definida que se vê colocado numa situação de total impotência por lhe terem tirado o que lhe era mais caro. Qualquer animal – mesmo o homem, quando acuado – reage por instinto para defender a si próprio e aos seus.

Quando a liberdade e as condições de sobrevivência de um homem são tolhidas, seu desespero despertará seus instintos dormentes e virão à tona, como os de um pequeno rato diante de um predador mais temido e supostamente corajoso, e, mais uma vez, será ouvido um brado retumbante de independência ou morte.

Agora se coloque no lugar do rato, que é o seu lugar na realidade atual.

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