O pesadelo de 202311 minutos de leitura

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A intenção não é propagar o pessimismo. Sinceramente. O intuito é o oposto disso, com o desejo que acordar e descobrir que o que estou vendo não passa de um sonho ruim e que dormi desde o início de 2019, quando passei a imaginar que havia uma organização cujo intuito era impedir que o Brasil pudesse tomar um rumo que nos elevasse à categoria de país de primeiro mundo, sem corrupção, sem desvios de dinheiro, com gente honesta no comando e com desenvolvimento para todos. Dada a explicação, relato meu pesadelo:

Tudo começou no dia do aniversário de meu amigo Chicão, 8 de novembro de 2019, quando Lula, a despeito de todas as condenações sofridas em três instâncias por unanimidade, devendo permanecer detido por 12 anos, foi solto – graças a uma manobra de um ministro que se declarara apoiador de seu partido durante a campanha de Dilma Rousseff –, tornando-se elegível e candidatando-se à Presidência do Brasil.

Poucos acreditavam que fosse eleito, e muitos questionaram a lisura das eleições que lhe deram a vitória. Mas, antecipando-se ao que poderia acontecer, outro ministro, que havia atuado como advogado daquele partido por anos, abriu, em março de 2019, um inquérito que foi denominado de “inquérito das fake news” (tradução: notícias falsas), cuja relatoria foi designada (sem sorteio) a um colega. Esse inquérito tinha o objetivo de “investigar a existência de notícias falsas, denunciações caluniosas, ameaças e roubos de publicação sem os devidos direitos autorais, infrações que podem configurar calúnia, difamação e injúria contra os membros da Suprema Corte e seus familiares”.

De acordo com o que determina a Lei, “Um inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.” Todavia, o inquérito em questão, não recebeu esse tratamento e passou a valer indefinidamente. E mais: passaram a ser classificadas como fake news todas as manifestações que contrariassem a opinião do relator, o que levou várias pessoas à prisão, ou, no mínimo, a sofrerem punições como a suspensão ou cancelamento de seus perfis em redes sociais, sua desmonetização (suspensão de pagamentos feitos pelas big techs) e até, em alguns casos, a obrigatoriedade do uso de tornozeleiras eletrônicas.

Porém, meu pesadelo era mais horrível porque, no mesmo período, bandidos perigosos tinham o direito de sair da prisão em datas comemorativas, sem tornozeleiras, ou eram soltos por decisão da mesma Corte, inclusive com a devolução dos bens ilícitos que haviam sido apreendidos pela polícia.

Um dos piores momentos do meu pesadelo foi quando um dos ministros supremos, ao ser questionado educadamente por um cidadão após a vitória de Lula, respondeu “Perdeu, Mané. Não amola!”, como se estivesse comemorando o resultado. EU QUERIA ACORDAR!

Tomando posse

O novo Presidente tomou posse no primeiro dia do ano e sua primeira ação foi cancelar todas as medidas tomadas pelo seu antecessor. Por quê? Eu não conseguiria responder, mas, para mim, a impressão era de mera vingança, pois ele disse durante uma entrevista que só ficaria satisfeito quando “ferrasse” o juiz que o julgou em primeira instância.

De repente, surgiu no meu pesadelo José Dirceu dizendo que “tomar o poder não é a mesma coisa que vencer uma eleição”. Assustador!

Os ministérios, que antes eram 23, com nomeações obedecendo a critérios essencialmente técnicos, passaram a ser 37 com a escolha conveniente de aliados políticos sem a menor capacitação para seus cargos, na maioria deles, e todos os aliados foram chamados para ocupar cargos nos mais diversos escalões. Havia entre eles até um youtuber chato pra dedéu, super revoltado com o mundo, ironicamente cogitado para ser o responsável pelo órgão especial de combate ao ódio e ao extremismo.

Esse foi, sem dúvida, o pior pesadelo que já tive em toda a minha vida.

Quisera eu que terminasse ali, mas acontece que o Presidente exigiu, desde antes de sua posse, que fosse aprovado de imediato um projeto que lhe desse autonomia para gastar duzentos bilhões de reais como bem entendesse. Houve quem suspeitasse que aquele dinheiro todo seria usado para convencer os parlamentares do Congresso Nacional a votarem a favor de tudo que o governo quisesse implementar, uma espécie de gratificação por seu “interesse pelo bem do País”. Dizem – e eu não acredito – que isso teria garantido a vitória dos candidatos preferidos do novo mandatário para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. Imagine. Como se no Brasil ainda houvesse corrupção…

Esses parlamentares, no entanto, tinham aspirações pessoais como prioridades. Um deles sonhava em fazer parte da Alta Corte, um emprego vitalício com alto salário, poderes absolutos e benefícios especiais; o outro queria poder. Todo o poder.

Tudo acontecia sem a presença do Presidente, que viajava pelo mundo com a esposa que adorava fazer compras em lojas caríssimas.

Os zumbis

Houve, inclusive, uma enorme manifestação popular em Brasília que resultou na prisão de mais de mil e duzentas pessoas, entre elas, homens e mulheres, crianças e idosos, alguns com problemas de saúde, mantidos em celas, mal alimentados e sem a devida assistência. Todos se tornariam réus por determinação do ministro mais temido e conhecido, sem audiência de custódia, sem o devido processo legal e sem que os (raros) advogados tivessem conhecimento do conteúdo dos processos. Parecia um enredo de filme de ficção produzido por alguém com a imaginação mais fértil de que já se teve conhecimento. Mais trágico que O Poderoso Chefão. E entre a chamada oposição havia apenas meia dúzia de políticos ingênuos imaginando que poderiam fazer frente a tudo aquilo. Uma crueldade.

Representando o poder maior, foi deixado a postos um homem de peso, o Ministro da Justiça e Segurança Pública, que assistira à manifestação da janela de seu pomposo gabinete. Era inexplicável a ausência de forças policiais para conter os rebeldes, embora a Agência de Inteligência tivesse distribuído um alerta sobre aquela possibilidade dois dias antes. O único que apareceu – com destaque nos vídeos obtidos nos prédios invadidos – foi o ministro do GSI – Gabinete de Segurança Institucional, o general G. Dias.

Esse general, supostamente, demitiu-se após a divulgação dos vídeos pelas emissoras de televisão (alguns dizem que os vídeos vazaram), pois sua postura demonstrava uma certa passividade diante dos vândalos que “ameaçavam a democracia”. Se fossem contados, talvez somassem uns cem, mas os presos eram mais de mil e duzentos.

Isso provocou a aprovação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar as responsabilidades do incidente de 8 de janeiro, a invasão dos prédios públicos em Brasília, contrariando a vontade do Presidente, que passou a distribuir gordas verbas parlamentares (antes chamadas de Orçamento Secreto) para que deputados e senadores retirassem suas assinaturas da lista. Foi a imprensa que divulgou essa notícia.

O Ministro da Justiça e Segurança Pública, já na mira da CPMI, manifestou-se, em outro momento, em defesa da lei de regulamentação da internet, dizendo que haveria três alternativas para a aprovação da lei: pelo Congresso Nacional, pelo Supremo Tribunal Federal (caso o primeiro não o fizesse) ou… a terceira alternativa não foi mencionada. Mas garantiu, com ênfase e repetindo-se: “eles vão perder“.

Paralelamente, uma organização sem CNPJ, denominada MST, invadia propriedades privadas e fazia ameaças a seus proprietários legítimos, além de exigir os cargos mais altos de várias unidades do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, em diversos estados do País, com êxito e sem nenhuma represália do governo ou da Justiça.

O Presidente, por sua vez, diante da aposentadoria de um dos ministros do STF, queria nomear seu advogado pessoal (e de toda a família, há mais de vinte anos) para a vaga, para frustração do presidente do Senado.

Como a “esperança é a última que morre” (se nós não morrermos antes), ainda resta a possibilidade de esse parlamentar ser indicado para a vaga da ministra que se aposentará em breve. Os dois outros ministros que não aparecem na imagem acima, tidos como conservadores, permanecerão em seus cargos por mais 24 e 25 anos, respectivamente. Nenhuma outra oportunidade surgirá nos próximos cinco anos. Ou seja, ainda há o risco de não ser reeleito no fim do mandato atual e amargar sua frustração para o resto da vida. Mas isso foi só no meu pesadelo.

Eu quero que o povo se exploda!

O governo não mostrava seus planos. O assunto diário do Presidente era seu antecessor, culpado – de acordo com sua opinião – pela morte de trezentos milhões, dos setecentos milhões de brasileiros mortos durante uma pandemia, e de tudo que acontecesse no mundo. Para mim, aquilo soava como um absurdo, pois o Brasil tem apenas 214,3 milhões de habitantes. Porém, o próprio Presidente revelou que inventava números quando estava no Exterior, para impressionar quem o ouvia.

Enquanto todos lutavam por seus interesses pessoais, recebendo salários astronômicos, bonificações, auxílios diversos, reposição de despesas e outros penduricalhos sem discutir qualquer assunto que visasse a população de forma positiva, o Supremo Tribunal Eleitoral – presidido por aquele ministro famoso, e por indicação do relator, o Ministro Benedito Gonçalves, amigo do Presidente – decidiu por unanimidade cassar o mandato do deputado Deltan Dellagnol, o mais bem votado em seu estado, o Paraná. Segundo advogados especialistas, o motivo é legal, em tese, mas suscita a suspeita de vingança, visto que o agora ex-deputado era procurador da Lava Jato, uma força tarefa que levou várias personalidades, supostamente blindadas, à prisão.

Também fazia parte dessa força tarefa o senador Sérgio Moro, aquele que o Presidente disse que só sentirá tranquilo quando o tiver “f*di#o”.

Nota: Justo Veríssimo era uma personagem de Chico Anysio que representava um político corrupto que só pensava e agia para atender seus próprios interesses.
Qualquer coisa que possa ser considerada ofensiva em relação a isso deverá ser cobrada do criador da personagem.

A explicação

Pelo que tenho lido e ouvido da mídia tradicional, devo estar atravessando o umbral, morri sem ter aproveitado a oportunidade de evoluir. Isso me parece um pesadelo, mas, se a mídia diz que não, eu tenho que acreditar, pois esta é a única lei que está valendo atualmente.

Se não estou mais vivo, meu cérebro deixou de funcionar por falta de oxigenação. Estou, inclusive, felicíssimo com o salário mínimo vigente, com a Justiça que não anda com os processos que me favorecem e com o destino que terá o dinheiro que tenho a receber (espero não ser preso por esta fake news, até porque não sou da direita, não defendo nenhum político e nem preciso mais votar). Sou capaz até de aplaudir o Alckmin pelo que ele fez.

Nota: de acordo com as pesquisas, Lula soma hoje 39% de avaliação positiva. Esta parte não faz parte do meu pesadelo. É real.

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